sábado, 5 de abril de 2014

Irmãos siameses

Amigos de Benavente:
Foi bom ter-vos connosco, nestes dias. Desejo que tenham feito uma boa viagem de regresso.
A vossa visita reforçou a nossa herança comum:

1. Em Castelo Branco, vivem descendentes de muitos refugiados da Guerra Civil de Espanha e dos judeus expulsos de Espanha, nos últimos anos do século XV.

2. O maior vulto da nossa cultura, o médico Amato Lusitano (de seu nome João Rodrigues), um dos mais famosos na Europa do século XVI, era filho de antigos judeus, talvez de judeus vindos de Espanha, anos antes. Isso não sabemos ao certo, mas estudou em Salamanca, na universidade que continua a ter uma forte ligação a Castelo Branco, através da orientação de doutoramentos e da vinda de conferencistas.

3. O nosso centro cívico, a que chamamos Docas, é obra de um arquiteto espanhol que aqui projetou uma grande praça como local de convívio, à maneira espanhola.

4. O nosso recém inaugurado Centro de Cultura Contemporânea foi projetado por um arquiteto catalão, em parceria com um português. Nele, podemos admirar as esculturas e pinturas da Exposição de Arte Latino-Americana da Coleção Berardo.

5. No Museu Cargaleiro, podemos admirar a cerâmica de Sevilha, a par da cerâmica local. E ao lado das obras de Manuel Cargaleiro estão algumas de Pablo Picasso.

6. Ao longo da história, os nossos reis tanto brincavam aos casamentos de príncipes e princesas como se entretinham a mandar-nos matar uns aos outros. Por isso, a cidade de  Castelo Branco foi ocupada muitas vezes pelo exército espanhol. Na última vez, aquando da Guerra Peninsular (1807-1814), vieram primeiro com o ocupante francês e depois, clandestinamente, a combinar connosco a resistência ao invasor comum, os franceses.

7. A rua mais antiga de Castelo Branco, a que sobe o monte para o castelo, chama-se Rua do Arressário. O nome é medieval e não sabemos o que significa, mas em castelhano existe uma palavra parecida que significa soalheiro. E tantas outras palavras temos em comum!
No falar, os portugueses do litoral dizem que nós construímos as frases à maneira castelhana.

Parecemos diferentes e somos tão iguais!
Até dia 8 de maio.

Nota: O título é de um historiador espanhol, referindo-se a Portugal e Espanha.

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